Sem independência

'Municipalismo' de Alagoas reforça submissão aos Calheiros

Meia dúzia disputam a Presidência da AMA e a atenção dos Renans

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Uma horda de prefeitos pré-candidatos das eleições da nova diretoria da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA) parecem seguir em um rumo contrário à logica do municipalismo, ao atrelar votos e candidaturas aos interesses do governador Renan Filho (PMDB). Até agora, todos os nomes que se dispuseram a concorrer à Presidência da AMA, demonstram disposição de rezar na cartilha da família Calheiros.

O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, parecia saber que a maioria dos pré-candidatos a presidir a associação de prefeitos de Alagoas “comem no prato do governador”, ao discursar para novos gestores municipais nesta sexta-feira (11). A coincidência de sua fala no Seminário Novos Gestores, em Brasília-DF, levou alguns prefeitos alagoanos à reflexão, sobre a necessária postura de independência dos líderes municipais dos governos estaduais.

“Paulo Ziulkoski disse: ‘Construam chapas independentes, não construam chapas alienadas a governadores. Porque os interesses do Estado não são os mesmos interesses dos municípios’. E foi como um puxão de orelha nos rumos das articulações dos prefeitos alagoanos para a sucessão da AMA. Todos são aliados do governador”, disse um dos prefeitos presentes ao seminário realizado na sede da CNM.

Apesar da postura combativa do atual presidente Marcelo Beltrão, a AMA tem dado provas de que não teve a independência necessária para impedir, por exemplo, que o governaddor extinguisse o programa Pró-Saúde, em abril deste ano, por meio do qual eram repassados, anualmente, mais de R$ 11 milhões aos municípios. E, hoje, os prefeitos dependem da articulação do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Alagoas (Cosems) junto ao Tribunal de Contas da União de Alagoas (TCU) para lutar contra os atrasos nos repasses da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), do governo de Renan Filho.

Chega para decidir

Internamente, o número de pré-candidatos é avaliado como comum à distância da eleição prevista para janeiro. Historicamente, com a proximidade do pleito da AMA, há o afunilamento das candidaturas. E o governador de ocasião costuma chegar na reta final para decidir qual o "líder municipalista" que deverá domesticar em Alagoas.

Entre os nomes citados como candidatos estão Rosiana Beltrão (PMDB), prefeita de Feliz Deserto; Hugo Wanderley (PMDB), Cacimbinhas; Marcelo Lima (PMDB), de Quebrangulo; Gustavo Feijó (PMDB), de Boca da Mata; Jeannyne Beltrão (PRB), de Jequiá da Praia; e Zezeco (PMDB), de Barra de São Miguel.

Até agora, mantém um corpo de distância nas articulações o prefeito Hugo Wanderley, quem tem as bênçãos do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB). E aguarda o retorno das férias de Renan Filho, para saber se também terá a anuência do governador.

Porém qualquer dos outros nomes não deveria dar tanto valor assim ao poder político dos Calheiros, minado por derrotas vexatórias nas últimas eleições de outubro nas maiores cidades de Alagoas, a exemplo de Maceió, Palmeira dos Índios e Rio Largo. Além disso, o senador Renan tem a Lava Jato em seu encalço, o que eve lhe impor dificuldades para a reeleição em 2018.

Certamente, conhecendo o nível de independência dos prefeitos alagoanos, a reflexão causada pela fala de Paulo Ziulkoski não vai durar até o próximo evento de “beija mão” em que os prefeitos costumam se enfileirar para poucos segundos de “prosa” com Renan. É quando o municipalismo se agacha e é rebatizado de “minicipalismo”.

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