Saudade

Sarney considera falecimento de Nélida Piñon ‘um golpe pessoal’

Causa da morte, ocorrida em Lisboa, ainda não foi informada pela ABL

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A romancista Nélida Piñon faleceu neste sábado,17 de dezembro - Foto: jornal "O Estado do Maranhão".

O ex-presidente e escritor José Sarney, também imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), divulgou nota de pesar pelo falecimento da escritora Nélida Piñon aos 85 anos, neste sábado (17) em Lisboa.

“A morte de Nélida Piñón é para mim um golpe pessoal, tão estreita era a nossa amizade e tão profunda a admiração que lhe tinha”, afirmou Sarney em uma nota sob o título “Nélida”.

Em nota, a ABL destacou a importância de Nélida Piñon e anunciou que o sepultamento será no seu mausoléu, mas não divulgou a data. E marcou para 23 de março a tradicional Sessão da Saudade em homenagem à rimancista, em seu Salão Nobre.

“A conheci quando ainda estreávamos, eu tentando conciliar vocação e destino e ela com os passos largos que a fizeram rapidamente uma das maiores romancistas da língua portuguesa”, conta José Sarney em sua nota.

Não é preciso fazer um apanhado de sua obra colossal. Basta lembrar os reconhecimentos com nomes que dizem tudo: Juan Rulfo, Rosalía de Castro e Cervantes; ou que ganhou o maior prêmio da literatura espanhola. Sua obra expande-se do romance à memória, do conto ao ensaio, mas mantém-se vinculada a sua natureza de quase-migrante que a manteve brasileira, mas não a desfez galega, e ao seu profundo amor pela literatura”, descreve o ex-presidente.

“Convivemos tantos anos… “, disse, “sempre encarou a vida de frente, com suas circunstâncias, para citar Ortega y Gasset, sempre tirando delas as lições que sabiamente nos passava em sua obra. Despedimo-nos dela, Marly e eu, com profunda tristeza, sabendo que deixa um imenso vazio na literatura hispano-americana — seu espaço era maior que o da literatura brasileira —, na Academia Brasileira de Letras e no nosso território afetivo. Saudade imensa!”

Obra admirável

A Câmara Brasileira do Livro (CBL) também lamentou a perda de “uma das mais brilhantes escritoras brasileiras”.

Descendente de galegos, Nélida Piñon nasceu na capital fluminense em 1937 e se formou em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Estreou na literatura com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961, que tem como temas o pecado, o perdão e a relação dos mortais com Deus.

Em 1984, lançou uma de suas obras mais marcantes: A república dos sonhos. No romance, baseado na história de uma família de imigrantes galegos, ela faz reflexões sobre a Galícia, a Espanha e o Brasil.

Seus escritos foram traduzidos em mais de 30 países e contemplam romances, contos, ensaios, discursos, crônicas e memórias, que renderam conquistas importantes, entre eles o Prêmio Jabuti, o mais tradicional reconhecimento literário do Brasil. Ela recebeu a honraria na edição de 2005 com o romance Vozes do Deserto. Nélida Piñon recebeu ao longo de sua carreira mais de 40 condecorações nacionais e internacionais.

No meio acadêmico, foi professora na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e obteve o título de Doutor Honoris Causa em instituições de ensino de diferentes países. Em 1998, foi a primeira mulher a alcançar esse feito na Universidade de Santiago de Compostela, na região da Galícia, na Espanha.

Morte lamentada

Sua morte foi lamentada por amigos nas redes sociais. “Um silêncio inacreditável se faz na alma dos que amam a literatura. A minha querida amiga de tantos anos, Nélida Piñon nos deixou há pouco em Lisboa. Ela me mandou esta foto semana passada, prometendo estar hoje no Rio para um almoço. Tristeza imensa”, escreveu o jornalista, escritor e gestor cultural Afonso Borges. Junto à postagem, ele compartilhou uma imagem da escritora acariciando no colo seu cachorro de estimação.

O sociólogo Sérgio Abranches também prestou manifestou seu pesar. “Estou arrasado com a morte da amiga querida, Nélida Piñon. Era de uma doçura e gentileza inexcedíveis. Uma escritora forte. Uma mulher autodeterminada. Uma perda para o Brasil e para a literatura. Uma perda pessoal. Falamos pouco antes de ela partir para Espanha e Portugal”, escreveu.

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