Mineração e rachaduras

Serviço Geológico quer saber se a Braskem causou fissuras em bairro de Maceió

Multinacional nega relação da extração de sal-gema com rachaduras no Pinheiro

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Minas de sal-gema da Braskem na Lagoa Mundaú, próximo do bairro do Pinheiro. Foto: Reprodução Abel Galindo/TV Gazeta

O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) pediu esclarecimentos à Braskem sobre a possibilidade de suas atividades de mineração estarem relacionadas ao surgimento de fissuras no solo e em imóveis do bairro do Pinheiro, em Maceió (AL). Há mais de quatro décadas explorando poços de jazidas gigantescas de sal-gema em Alagoas, a multinacional negou nesta segunda-feira (14) que as atividades de mineração tenham provocado o fenômeno no bairro próximo à região da Lagoa do Mundaú, onde há uma grande concentração de pontos de extração no subsolo.

A empresa que extrai o minério utilizado na química e no plástico disse ao Diário do Poder que segue rigorosamente as recomendações técnicas de segurança em todas as suas operações. E negou haver uma evidência sequer de relação de sua atuação nos poços próximos ao bairro com os eventos que causaram apreensão na população e riscos de desabamentos de imóveis no Pinheiro.

Quando perguntada sobre os questionamentos do Serviço Geológico, a Braskem afirmou ainda que, em função do conhecimento técnico de geologia, vem dando apoio às autoridades a fim de “encontrar as reais causas deste fato”.

O Diário do Poder questionou se a empresa poderia apresentar uma demonstração técnica, com imagens e estudos, de que as áreas exploradas não apresentam nenhum risco de ter provocado falhas geológicas, ligadas à extração. E respondeu que acionou a área técnica para saber se existem tais comprovações.

A reportagem apurou que a partir da chegada do Serviço Geológico do Brasil para os estudos de campo, houve reuniões entre os especialistas do órgão e da Braskem. A multinacional apresentou relatórios, quando questionada sobre aspectos técnicos de suas atividades de mineração próximas ao bairro.

A Braskem ainda teria firmado um acordo para fazer um dos estudos que seria feito pelo Serviço Geológico, que provavelmente será a “sísmica de reflexão”, um método geofísico que permite melhor descrição das características de terrenos e o estudo em grandes profundidades, com base na reflexão de ondas sísmicas.

Além da possibilidade de a Braskem ter provocados vazios no subsolo após a retirada de sal-gema em grandes profundidades, outras hipóteses que estão sendo verificadas são naturais, ou decorrente da atividade tectônica no bairro que tem uma falha geológica, ou do aparecimento de dolina, que é uma depressão no solo causada pela dissolução química de rochas que provoca desabamentos.

Após boatos que aterrorizaram moradores da região no fim de semana, a Defesa Civil e o Serviço Geológico publicaram nota em que alertam a população do Pinheiro de que é inverídica e precipitada qualquer informação que aborde uma suposta situação de colapso no bairro.

Minas da Braskem sobre falha geológica em Maceió podem ter relação com fissuras. Foto: Reprodução Abel Galindo/TV Gazeta

Minas e falha geológica

O engenheiro civil e mestre em Geotecnia, Abel Galindo, evidenciou essa possibilidade ao apresentar a grande concentração de minas de sal-gema da Braskem, na área da Lagoa Mundaú próxima aos bairros do Mutange e Pinheiro, por onde passa uma das muitas falhas geológicas adormecidas a milhões de anos.

“Ela [a falha] passa exatamente pelo meio das minas. Esse que é o grande problema. E as fissuras estão aproximadamente paralelas à linha de falha”, disse o professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas, em entrevista ao programa ALTV 1ª Edição, na TV Gazeta, afiliada da Rede Globo.

O estudioso também elenca entre o conjunto de hipóteses o grande volume de água retirada do subsolo, e uma camada de rochas muito fraturadas, com 200 metros de espessura, logo acima das jazidas do sal-gema.

Em 2012, a Braskem ativou um novo parque industrial, transformando Alagoas no maior produtor de policloreto de vinila (PVC) da América Latina, com a geração de 460 mil toneladas de resina por ano.

A pedido do Prefeito de Maceió, o presidente da República Jair Bolsonaro determinou, na última sexta-feira (11), que sejam viabilizadas todas as condições que levem à identificação das causas do fenômeno e proposição de soluções. No mesmo dia, técnicos do Serviço de Geologia do Brasil iniciaram o trabalho de batimetria sísmica do Complexo Lagunar alagoano em busca de informações do fundo da Lagoa Mundaú, bem como da estrutura de camadas mais profundas, para identificar as causas do fenômeno.

Os moradores do Pinheiro marcaram para 19h30 desta segunda um encontro na praça Menino Jesus de Praga, no bairro, para discutir sobre outra reunião que acontecerá na quarta-feira (16), com a Defesa Civil de Maceió.

Segue o posicionamento da Braskem sobre o assunto:

A Braskem segue rigorosamente as recomendações técnicas de segurança em todas as suas operações. As atividades de mineração em Alagoas começaram em 1975.  Não há nenhuma evidência de relação com os eventos do bairro do Pinheiro. Em função do conhecimento técnico de geologia, a Braskem vem dando apoio às autoridades a fim de encontrar as reais causas deste fato.

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