Contra cassação

Senador critica Bolsonaro por defender assassino de sua mãe, a deputada Ceci Cunha

Bolsonaro defendeu mandato de assassino em plenário e acusou a vítima da chacina em entrevista, em 1999

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Senador eleito Rodrigo Cunha e o deputado Jair Bolsonaro em entrevista de 1999. Fotos: ALE e Reprodução

Eleito senador mais votado de Alagoas, o deputado estadual Rodrigo Cunha (PSDB-AL) declarou nesta quinta (18) que a postura do candidato do PSL à Presidência da República Jair Bolsonaro em relação à honra e ao assassinato de sua mãe Ceci Cunha reforçam sua disposição de acabar com a imunidade parlamentar. Há quase duas décadas, Bolsonaro votou contra a cassação do assassino da deputada federal Ceci Cunha (PSDB-AL), Talvane Albuquerque, suplente de sua vítima na Câmara dos Deputados. Bolsonaro ainda lançou dúvidas sobre a honestidade da vítima de um dos mais emblemáticos crimes político do Brasil.

Contra a vontade de Bolsonaro e de mais 28 deputados, Talvane foi cassado em votação secreta em 7 de abril de 1999, com 427 votos pela cassação, após ser denunciado como mandante da chacina que também vitimou o pai, a avó e um tio do agora senador Rodrigo Cunha. As vítimas foram mortas com tiros de metralhadora e espingarda 12 no bairro da Gruta, em Maceió (AL), após Ceci Cunha ser diplomada em 16 de dezembro de 1998. Pouco mais de 13 anos depois, o deputado foi preso, condenado a mais de 100 anos pela autoria intelectual do crime.

“Uma das coisas pelas quais vou lutar é para acabar com o foro privilegiado, porque acredito que político nenhum é melhor do que os cidadãos. Este caso reforça o pensamento do candidato [Bolsonaro] acerca de algo tão grave. Senti na pele essa posição dele, mas independente disso, eu já não concordava com algumas posturas do candidato. Tanto essa posição quanto o vídeo onde difama a história de minha mãe só vêm reforçar meu entendimento. Sobre o que ele fala, a história da minha mãe fala por si: uma política sempre respeitada e extremamente querida por tudo que fez ao povo alagoano”, disse Rodrigo Cunha, ao ser questionado sobre a postura de Bolsonaro pelo Diário do Poder.

Na última terça (16), Rodrigo Cunha publicou carta a berta em que negou apoio aos candidatos a presidente neste 2º turno e afirmou que os candidatos Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro aguçam extremos políticos que não fazem bem ao país. O tucano pediu que o eleitor busque a verdade para orientar seu voto de acordo com seus princípios e consciência.

Ceci Cunha foi morta a mando de Talvane Albuquerque. Fotos: Divulgação e Reprodução Globo

De vítima a acusada

Na sessão em que Talvane foi cassado, Bolsonaro foi o único deputado que se declarou em defesa do acusado, em uma postura diferente de seu discurso contra os Direitos Humanos e a favor de rigor contra políticos criminosos. O agora presidenciável do PSL relativizou o fato de Talvane ter admitido ter feito contato com o pistoleiro Maurício Guedes, vulgo “Chapéu de Couro”, para “contratar seguranças”, antes do crime. Fato que foi um dos pontos centrais da denúncia que provou sua ligação com a chacina.

“Quero saber aqui quem nunca teve contato com um marginal”, justificou Bolsonaro, antes de reforçar sua benevolência a favor de seu colega de parlamento: “Por isso, como o processo na Justiça sobre a investigação da morte de Ceci Cunha ainda está em andamento, com a possível inocentação do deputado, todos que votarem pela cassação se sentirão culpados”, disse Bolsonaro, de acordo com reportagem da Agência Estado, replicada pela Folha de Londrina, à época.

Mais tarde, em um trecho de uma das entrevistas que mais repercutem a essência do presidenciável que atuou durante 27 anos na Câmara dos Deputados, Bolsonaro levanta suspeitas sobre Ceci Cunha, vítima de Talvane Albuquerque, ao sugerir que a parlamentar teria participado de um esquema de venda de partido ao então candidato à reeleição para o governo de Alagoas Manoel Gomes de Barros, do qual Ceci desistiu de ser vice.

Houve diversos discursos pela cassação de Talvane Albuquerque. “Ceci insistia em fazer política de paz num Estado onde as coisas se resolviam pela violência. Essa Casa não é de tolerância!”, bradou o deputado Artur Virgílio Neto (PSDB-SP), na sessão de 7 de abril de 1999, quando a deputada Nair Xavier Lobo (PMDB-GO) defendeu que o plenário deveria cassar o mandato de Talvane, “em homenagem ao povo alagoano que não merece esse representante”.

Em entrevista concedida um mês e meio depois de Bolsonaro defender que Talvane deveria permanecer deputado, o candidato do PSL já tratava o parlamentar cassado como autor do assassinato e dizia que Ceci Cunha era “tida como santa” por isso.

Assista:

 

O Diário do Poder entrou em contato com assessoria do deputado Jair Bolsonaro, mas não obteve respostas.

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