Prefeito de Maceió exonera auxiliar após uma conversa que durou 20 segundos
Órgão dirigido por Ricardo Wanderley promoveu economia de R$180 milhões
O prefeito de Maceió (AL), Rui Palmeira (PSDB) exonerou um dos seus principais auxiliares, o advogado Ricardo Wanderley, do cargo de diretor-presidente da Agência Municipal de Regulação de Serviços Delegados (Arser), após o órgão promover uma economia recorde de R$ 180 milhões, ao criar uma blindagem contra interferências externas sobre licitações e contratos neste segundo mandato tucano. A exoneração publicada na última quarta (19) foi resultado de quase dois anos de resistências internas, resumidas em uma conversa de cerca de 20 segundos, entre o prefeito e seu agora ex-auxiliar.
Desde seu funcionamento efetivo, a partir do ano passado, a Arser virou alvo de uma guerra política entre aliados do prefeito e Ricardo Wanderley, após o órgão garantir à Prefeitura de Maceió uma economia de R$ 144 milhões em 2017, com 125 licitações; e de R$ 36 milhões neste ano de 2018, com 63 licitações homologadas.
“Saí porque a minha postura diante da vida e a minha conduta como gestor público já não atendiam ao perfil que o prefeito espera e deseja para a sua equipe”, resumiu Ricardo Wanderley, em sua única declaração sobre o motivo da saída da Arser, em resposta ao Diário do Poder, já na tarde desta quinta (20).
A reportagem apurou que a exoneração de Ricardo Wanderley tem relação direta com outra demissão, do ex-titular da Superintendência da Limpeza Urbana (Slum), Jean Carlos Gomes Ferreira da Silva, após recomendação do Ministério Público Estadual de Alagoas (MP/AL), diante da apuração de promotores da Fazenda Pública Municipal sobre indícios de irregularidades identificadas, com base em informações sobre os serviços da coleta de lixo repassadas de modo transparente pela Arser.
Fogo amigo
As relações internas com Ricardo Wanderley, que já eram tensas, chegou ao ponto de choque porque, sob o comando de Jean Carlos, a Slum trabalhava para fazer outro contrato emergencial mantendo as atuais empresas, alvos de suspeitas desde a gestão do ex-prefeito Cícero Almeida (PHS). E, enquanto isso, Ricardo Wanderley trabalhava, desde o ano passado, para formalizar os contratos da limpeza urbana através de licitação, em seu dever de ofício à frente da Arser.
Sob pressão do MP, o superintendente da Slum acabou sendo exonerado “a pedido”, na segunda-feira (17). E, o mesmo se repetiu com Ricardo Wanderley, no dia seguinte, após a breve conversa do gestor da Arser com o prefeito tucano. O substituto do diretor-presidente da Arser é Rodrigo Borges Fontan, que deixou o cargo de adjunto da Secretaria de Controle Interno.
Conforme apurou o Diário do Poder, os apelos do ex-superintendente da Slum, Davi Maia, e do secretário municipal de Economia, Fellipe Mamede, pesaram sobre a decisão de Rui Palmeira de dispensar o diretor da Arser. Ambos cobraram uma reação imediata para o “incidental” causador da queda de Jean Carlos.
Ricardo Wanderley vai continuar contribuindo com o MP, inclusive tem encontro marcado com os promotores para esta sexta (21).
Davi Maia, que disputa sua primeira eleição para o mandato de deputado estadual negou ao Diário do Poder ter “pedido a cabeça” De Ricardo Wanderley: “Oxe Não! Ricardo é meu amigo de muitos anos, trabalhei com ele em vários locais, antes mesmo de estar na Prefeitura de Maceió. Meu [pedido] não! Nutro por ele uma amizade grande e antiga, nunca faria isso com um amigo”.
Fellipe Mamede não respondeu ao mesmo questionamento feito a Davi Maia.
‘Licitação no forno’
Apesar de o tempo hábil ser bem escasso para dar andamento ao processo licitatório para a limpeza urbana, em atraso há quase um ano, a Prefeitura de Maceió garante que trabalha para lançar a licitação. E encaminhou a seguinte nota a respeito das exonerações e dos serviços da limpeza urbana:
“As mudanças dos titulares das duas pastas foram feitas por decisão do prefeito, em um processo de adequação da equipe da gestão municipal.
O município está trabalhando para lançar o edital de licitação dos serviços de limpeza urbana de Maceió. O processo está em instrução e todas as suas etapas serão acompanhadas pelos órgãos de controle externo, como o Ministério Público Estadual e Ministério Público de Contas.
O objetivo é lançar o edital com o chamamento público para as empresas interessadas,aberto para todo o território nacional, com critério de menor preço pelo serviço de coleta e gestão dos resíduos sólidos”.