Ingerência política

Renan Filho parou blitzes e transferiu PMs a pedido de ex-governador

Ex-governador Mano disse ter seu pedido atendido de imediato pelo seu amigo governador de Alagoas

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Governador de Alagoas Renan Filho e ex-governador Manoel Gomes de Barros. Foto: Ivan Nunes/Blog A Palavra/Arquivo

O ex-governador de Alagoas Manoel Gomes de Barros, o Mano, revelou em entrevista concedida na segunda-feira (27) que o governador Renan Filho (MDB) permitiu sua ingerência política na Segurança Pública de Alagoas, após um pedido feito pelo ex-chefe do Executivo Estadual, que é aliado político da candidatura à reeleição do filho do senador Renan Calheiros (MDB).

Mano declarou que pediu para Renan Filho suspender as blitzes que apreendiam motocicletas em situação irregular e “cinquentinhas”, porque eram um desgaste desnecessário e atingiam pessoas pobres do município de União dos Palmares (AL), onde o governador perdeu em 2014 para seu adversário Benedito de Lira (PP).

O ex-governador evidenciou o descumprimento de uma das principais promessas de campanha do governador de não permitir ingerência política ou eleitoral nas forças policiais. E afirmou que teve seu pedido atendido prontamente por Renan Filho.

“Eu falei imediatamente com o governador, pedi ao governador que ele mandasse suspender essas blitzes, e tal, que isso não tava levando a nada; é um desgaste muito grande e desnecessário. Entendeu? Essas pessoas mais pobres. Nós estamos vivendo uma crise grande no país inteiro e no Estado e que não levaria a nada. Então, pedi ao governador que suspendesse e o governador atendeu imediatamente”, declarou Mano, ao jornalista Ivan Nunes, do Blog A Palavra.

O ex-governador recebeu em sua casa a visita de Renan Filho no dia 09 deste mês de agosto, em União dos Palmares. Segundo Mano, foi nessa ocasião em que foi feito o pedido para a suspensão das abordagens policiais que já haviam se tornado objeto de apuração junto à Corregedoria da Polícia Militar de Alagoas. E o ex-governador afirmou que bastou um telefonema do governador para ocorrer a troca dos comandantes do policiamento em seu reduto político.

“Senti que ninguém tomou a iniciativa e fui falar com o governador, ele foi na minha casa e eu solicitei a ele que ele preservasse as pessoas mais carentes, que estavam usando essas cinquentinhas aí, e que não havia necessidade. E ele não sabia disso, tomou conhecimento através de mim. E imediatamente, na mesma hora, ele fez um telefonema, mandou inclusive substituir os comandantes e tal; e encerrou e suspendeu incontinente esse negócio na feira”, disse Mano na entrevista.

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Mudança de planos

A regularização das motocicletas de 50 cilindradas, as cinquentinhas, é medida de segurança justificada e defendida pelo governo de Renan Filho, como a alegação de facilitar a identificação de eventuais acusados de acidentes ou atos de violência utilizando esses veículos. Mas as críticas à fiscalização e cobrança por emplacamento dessas motos de baixo custo são um dos principais motes de campanha do candidato a governador Fernando Collor de Mello (PTC), desde seu primeiro discurso, no início de agosto.

Na entrevista, o ex-governador Mano reagia a provocações feitas por Collor e defendia seu candidato. Uma semana antes do diálogo narrado por Mano com Renan Filho, o Departamento Estadual de Trânsito de Alagoas (Detran/AL) prorrogou para 1º de dezembro, depois das eleições, o prazo para emplacamento das cinquentinhas.

Apesar de uma controvérsia temporal de pelo menos 24h na narrativa de Mano sobre seu pedido político e as transferências dos comandantes da PM de seu reduto eleitoral, é fato que, no dia anterior à visita de Renan Filho ao ex-governador aliado, o tenente-coronel Pedro Henrique do Carmo Neto assumiu o comando do 2º Batalhão da PM, sediado em União dos Palmares, substituindo o tenente-coronel Maciel Pantaleão Silva. E este substituiu o coronel Claudivan Gomes de Albuquerque, no Comando do Policiamento da Área do Interior III (CPAI-III), responsável pelo 2º Batalhão.

O coronel Albuquerque foi alvo de denúncia de um policial do 2º Batalhão, vazada em áudio em grupos do aplicativo do Whatsapp, em janeiro. À época, a denúncia alegava que o comandante do 2ª Batalhão, tenente-coronel Pantaleão, estaria intensificando a blitzes para apreender motocicletas com irregularidades, posteriormente removidas por guinchos da empresa do coronel Albuquerque, comandante do CPAI-III.

O Comando da PM chegou a abrir procedimento administrativo, em janeiro, para apurar a veracidade dos fatos, inclusive a autoria dos áudios visando a tomada das medidas administrativas cabíveis, e que confia plenamente no comando do CPAI/III e do 2°BPM.

‘Foi engano’

Mano pretende ter o apoio de Renan Filho para tentar se eleger prefeito de União dos Palmares em 2020. Assumiu o compromisso de atuar como coordenador da campanha de reeleição do governador, na sua região. E retornou ao contato do Diário do Poder afirmando, inicialmente, que tudo teria sido um engano, pois não teria dado declarações sobre o caso das blitzes de União. Mas depois de ser informado de que havia a gravação de sua entrevista, com sua voz tratando do tema, disse que apenas repetiu o que o governador disse em sua casa contra o excesso de blitzes, sem pedir transferência de militares. Leia mais aqui.

Procurada pelo Diário do Poder, a assessoria do governador Renan Filho disse que o candidato à reeleição não comenta as declarações do ex-governador Mano. A Polícia Militar não respondeu ao contato da reportagem. E o Detran esclareceu que os batalhões da PM não são subordinados ao órgão, que atua apenas com a guarnição da Lei Seca. Lembrou ainda que o Detran não está mais fazendo apreensão das cinquentinhas, por determinação do diretor-presidente Antônio Carlos Gouveia, que suspendeu a cobrança por regularização até 1° de dezembro.

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