Mordomias milionárias

Renan Filho gastou R$3 milhões com voos de jatinho e 299 horas de helicóptero

Dos R$3 milhões gastos, alagoano bancou voo de R$131 mil com 3 passageiros

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Jatinho da frota da Sotan e helicóptero que transportava governador Renan Filho. Fotos: Sundown e Isac Mamede/Airliners.Net e Agência Alagoas

“Valorizar cada centavo do dinheiro de Alagoas”, é o que diz o discurso do candidato à reeleição Renan Filho (MDB), em sua propaganda eleitoral sobre “eficiência” dos gastos públicos, na qual critica o desperdício e a falta de planejamento que atribui a gestões passadas. Mas os seus planos de voos registrados oficialmente expõem gastos ofensivos a quem vive no estado com segundo pior desempenho do Brasil na criação de emprego. Renan Filho gastou R$ 2,9 milhões com voos de jatinho, em um intervalo de um ano e quatro meses. E voou no helicóptero oficial durante 299 horas e 18 minutos, ao custo estimado de R$ 427 mil com combustível, entre janeiro de 2015 e fevereiro deste ano eleitoral. Só em companhia do pai, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), foram 13 voos.

As histórias por trás das centenas de milhões de centavos gastos diretamente por Renan Filho para se deslocar pelos ares foram obtidas pelo Diário do Poder, por força da Lei de Acesso à Informação (LAI). E revelam como exemplo mais evidente do alto custo destas despesas a viagem de Renan Filho com dois assessores, entre Maceió (AL) e Brasília (DF), passando pelo Rio de Janeiro (RJ), que custou mais de R$ 131 mil, nos dias 17 e 18 de maio de 2016. 

Somente com os deslocamentos aéreos na aeronave modelo Falcon da empresa Sotan Táxi Aéreo, foram gastos R$ 43,7 mil por passageiro, com o objetivo de cumprir compromissos no Fórum Nacional João Paulo Reis Velloso, no Rio; e no Tribunal de Contas da União (TCU) e em dois ministérios, em Brasília. Na lista de passageiros: Renan Filho, seu assessor especial Henrique Fernandes de Albuquerque Vital e o secretário da Fazenda George André Palermo Santoro, que é pago para zelar pelos cofres estaduais.

Três meses antes, outra viagem de jatinho somente com três passageiros sangrou R$ 128,6 mil dos cofres do estado que mantém péssimos indicadores sociais. E o alto custo da agenda ainda revelou-se totalmente ineficiente até hoje. O investimento levou o governador Renan Filho até a empresa Agrícola Famosa, no Ceará, acompanhado de seu assessor Henrique Vital e do então secretário da Agricultura Álvaro Vasconcelos, entre 16 e 18 de fevereiro. 

A falta de retorno desta viagem é evidenciada pela frustração de seu objetivo, que era atrair para o Sertão de Alagoas a empresa especializada em fruticultura irrigada. A empresa chegou a ser anunciada pelo então secretário como reforço para a economia alagoana, em Delmiro Gouveia. Mas jamais plantou uma muda em solo alagoano. O voo teve itinerário partindo de Maceió (AL), passando por Iratí e Fortaleza, no Ceará, e seguindo até Brasília (DF), antes de retornar à capital alagoana.

R$ 46 mil para bater palmas no TRF5

A ineficiência e o despropósito do gasto público em um estado pobre como Alagoas se repete em outros dois voos que levaram Renan Filho, assessores e políticos para cerimônias de posses de magistrados, no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), em Recife (PE). Cada um dos voos que levaram a cúpula do poder público de Alagoas para aplaudir desembargadores na capital do estado vizinho custou R$ 23,2 mil ao trabalhador alagoano.

O primeiro voo, em 11 de dezembro de 2015, levou no jatinho o governador e mais dois assessores para a posse do desembargador federal Rubens Canuto, no TRF5. Já o segundo voo repetiu-se em 03 de abril de 2017, para outra posse da cúpula diretiva do TRF5, com Renan Filho mais seis passageiros, incluindo o presidente do Legislativo, Luiz Dantas (MDB)e seu filho e candidato a sucessor Paulo Dantas, o deputado estadual Marcelo Victor (SD), entre outros. 

Todos os 35 voos do governador de jatinho foram feitos em aviões modelos Falcon e Learjet60, por meio de contrato entre a empresa Sotan Taxi Aéreo e o Estado de Alagoas. Tal relação contratual finalizou em abril de 2017. 

Gastava 5000% a mais

A partir do término do contrato com a Sotan, o governo de Alagoas passou a gastar de 1000% a até quase 5000% menos com o preço das viagens de Renan Filho a Brasília, em comparação com o custo daquelas realizadas com os jatinhos. 

O menor custo por passageiro nos jatinhos da Sotan foi de R$ 10,2 mil por pessoa transportada de Maceió a Brasília no voo de ida e volta com maior lotação – nove viajantes – entre 31 de agosto e 1º de setembro de 2016. Gasto que chegou a R$ 46 mil por cabeça, quando Renan Filho viajou apenas com Henrique Vital, no mesmo trajeto, em 1º de junho de 2016.

Das onze viagens de ida e volta feitas por Renan Filho em voos comerciais de Maceió a Brasília, durante o ano seguinte ao término no contrato com a Sotan, seis custaram entre R$ 925,96 e R$ 1,6 mil; quatro ficaram entre R$ 2 mil e R$ 2,6 mil e somente uma custou mais caro: R$ 5,3 mil. Ainda assim, um custo bem menor que o menor preço de frete pago pelos jatinhos para a capital federal: de R$ 88,1 mil.

No ano seguinte após deixar de usar os jatinhos, o custo do transporte aéreo de Renan Filho caiu para um total de R$ 56.669,06, de abril de 2017 a março de 2018. A despesa caiu drasticamente, mesmo com a inclusão de uma viagem internacional de ida e volta de Maceió à Colômbia, em dezembro de 2017, passando por Brasília e Rio de Janeiro, ao custo de R$ 10.559,59. E ainda havia quatro reembolsos pendentes, de cancelamento de viagens, até maio deste ano.

Mesmo que o total da despesa de voos de carreira fosse multiplicado pela lotação máxima dos nove passageiros que foram transportados uma única vez entre os voos de jatinho, o custo seria de cerca de meio milhão de reais, em um ano. Bem menor que os R$ 2.987.237,08 gastos com os voos fretados durante um ano e quatro meses.

Helicóptero do Governo de Alagoas. Foto: S Mendes/Aerobahia

Quase 300 horas voando no segundo menor estado do Brasil

Ao responder à reportagem sobre o pedido por detalhes dos voos do governador, o Gabinete Civil do Estado de Alagoas disse que os custos da utilização do helicóptero de propriedade do Estado pelo governador, com sua manutenção e transporte se encontraria no Portal da Transparência. Porém, muitas das notas de venda de combustível de aviação emitidas não diziam respeito apenas ao custo de abastecimento da aeronave utilizada por Renan Filho, modelo AgustaWestland AW-119 MkII Koala, com prefixo PT-GMG. 

Felipe Cordeiro, autoridade responsável pelo cumprimento da Lei de Acesso à informação no Gabinete Civil do Estado de Alagoas, considerou “importante ressaltar que o helicóptero não apenas serve de transporte para o governador, mas também é utilizado em operações da polícia e resgate”. Mas a estatística de outros voos com esta aeronave sem o governador como passageiro não foi incluída neste levantamento.

Como esta reportagem tem foco nos gastos com as viagens do governador, o Diário do Poder teve que fazer uma estimativa de gastos com base nos custos das 299 horas e 18 minutos de voos de Renan Filho, informadas oficialmente. E chegou à cifra aproximada de R$ 427,6 mil somente de custos com combustível, após apurar que o modelo da aeronave consome uma média de 70 galões por hora de voo, o que equivale a 264,6 litros. Foi tomado como base o menor preço do litro de querosene de aviação pago pelo Estado, de R$ 5,40 por litro, no maior período dos voos, conforme atas de registro de preços nº 065/2016 e 418/2016, da empresa Mapesa. 

No segundo menor estado em extensões territoriais do Brasil, com área de 27,7 mil km², foram mais de 223 viagens, sendo 75 voos de helicóptero para levar o governador ao aeroporto com o propósito de “otimizar” a agenda de trabalho de Renan Filho.

O ex-presidente do Senado e pai do governador, Renan Calheiros (MDB-AL) foi o único senador a viajar no helicóptero, de 2015 até fevereiro de 2018. Foram 13 viagens de Renan ao lado de seu herdeiro político.

Mas outros parlamentares também foram passageiros assíduos do helicóptero que transportava o governador. Políticos como o líder do governo na Assembleia Legislativa, Ronaldo Medeiros (MDB-AL), e outros aliados emedebistas como os deputados estaduais Isnaldo Bulhões e Jó Pereira, e os deputados federais Paulão (PT), Ronaldo Lessa (PDT), Maurício Quintella (PR) e Givaldo Carimbão (Avante). 

Por meio da assessoria do governador, o Diário do Poder questionou a Renan Filho se o candidato à reeleição considera que esses gastos representam a valorização de cada centavo do dinheiro do alagoano; ou são parte do mesmo desperdício e a falta de planejamento que ele critica citando gestões passadas.

Renan Filho informou que não iria responder às perguntas.

Veja a relação completa com os voos de jatinho do governador, clicando aqui

Compare a relação dos voos de carreira após o término do contrato com jatinhos, clicando aqui.

E veja aqui a lista detalhada dos voos no helicóptero do Estado de Alagoas transportando Renan Filho.

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