Alerta de colapso

Prefeito de Maceió e secretário apelam por isolamento, mas sem lockdown: ‘Vai faltar UTI’

Com baixas de servidores, Rui Palmeira e Thomaz Nonô admitem incapacidade de impor mais rigor

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Prefeito Rui Palmeira e o secretário de Saúde Thomaz Nonô falam sobre ações contra a covid-19 em Maceió (AL). Foto: Marco Antônio/Secom Maceió

O prefeito Rui Palmeira, e seu secretário da Saúde, José Thomaz Nonô, rejeitaram a viabilidade de decretar lockdown em Maceió (AL), ao defenderem, nesta terça-feira (26), que somente a conscientização dos cidadãos sobre a necessidade do isolamento social poderá impedir o colapso da estrutura de atendimento da saúde pública na capital alagoana. Em entrevista coletiva, os gestores municipais alertaram sobre a ocupação de leitos de UTI que se aproxima do percentual 80%.

Rui e Nonô relataram que a sobrecarga dos profissionais de saúde que atuam nesta pandemia já resultou no afastamento 321 servidores municipais somente em maio. Mas avaliam faltar condições de impor regras para um isolamento total, por não haver condições de fiscalizar as medidas mais rígidas, ainda mais com 70 casos confirmados de covid-19 na Guarda Municipal, e mais de 400 contaminações entre policiais militares, segundo informações recebidas pelo prefeito.

Diante dos riscos da doença que já matou 223 dos 4.064 maceioenses infectados pelo novo coronavírus, o prefeito Rui Palmeira alertou para a necessidade de as pessoas terem noção da gravidade da situação da pandemia, dos cuidados para não levar a doença para casa, para não contaminar sua família. E reforçou a fala do secretário Nonô, quando relatou que muita gente tem procurado as unidades de saúde, fazendo os primeiros atendimentos, já em um estágio em que precisam ser transferidas rapidamente para uma UTI.

“Vai faltar UTI, fatalmente! Então a gente precisa da consciência de cada cidadão, para ficar em casa, neste momento. Não entendo como factível o chamado lockdown. Porque os estados que o fizeram, muitos deles já estão desfazendo, porque não tiveram a força e capacidade de fazer essa fiscalização como deveria. Então, eu acho que a gente já está no limite das medidas restritivas, e espera contar com a consciência de cada cidadão maceioense”, apelou o prefeito Rui Palmeira.

“Não adianta aumentar o coeficiente de coerção. Acho que nosso trabalho e o do governo do Estado é o de convencimento. Por isso, além da mídia, que é importantíssima, vamos usar o velho carro de som. Temos que convencer dona Maria, seu João, de que ele não põe em perigo não só a vida dele, como a do outro”, completou o secretário de saúde Thomaz Nonô, ao ponderar que pacientes, não apenas com sintomas de covid-19, precisam vencer o medo de procurar atendimento nas unidades de saúde, quando estiverem doentes.

Somente em maio foram afastados por motivos de saúde os seguintes profissionais da linha de frente de combate à covid-19 na rede pública de Maceió: 18 técnicos (as) de laboratório; 125 técnicos (as) de enfermagem; 52 enfermeiros (as); 14 farmacêuticos (as); e 112 médicos (as).

“Da mesma forma que não haverá leitos suficientes se todo mundo se contaminar, não haverá como fiscalizar a imposição dessas normas (de lockdown). Pode endurecer e dizer que vai dar dez anos de prisão, o que quiser. Não evolui! Só evolui se as pessoas tiverem clareza, forem convencidas de que as pessoas precisam ter esse tipo de cautela”, avaliou o secretário da Saúde.

Segundo os boletins epidemiológico e de ocupação de leitos divulgado hoje (26) pelo governo de Alagoas, Maceió tem ocupadas 77% de suas UTIs, 76% das UTIs intermediárias e 50% dos leitos clínicos. Em todo o estado, o índice de ocupação de UTIs alcançou o percentual de 79%. E Alagoas já registrou 352 mortes por covid-19, com 7.058 casos confirmados e 3.653 alagoanos curados.

Força-tarefa lacra estabelecimentos comerciais no bairro do Poço, em Maceió (AL). Foto: Marco Antônio/Secom Maceió

Sem pressão e com ciência

Depois de destacar que o isolamento social na capital alagoana alcançou índice de 59,6% de maceioenses em casa, no último domingo (24), o prefeito afirmou que é preciso manter este comportamento, mesmo que não se alcance o percentual de 70% pregado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), considerado por ele inalcançável por razões sociais e culturais locais.

“Estamos batendo um índice bastante interessante, e precisamos manter isso. As pessoas têm que realmente acreditar na ciência, nas informações oficiais. São medidas duras, restritivas, mas extremamente necessárias”, disse o prefeito.

Questionado pelo Diário do Poder sobre a pressão pela reabertura do comércio, Rui Palmeira disse estar muito tranquilo, se baseando em decisões e protocolos técnicos. “Não em pressão de rede social. A gente sabe que precisam, boa parte dos segmentos, continuarem fechados. Não dá para a gente imaginar que, em um curto espaço de tempo, bar e restaurante vão reabrir. É impraticável nesse momento. Mas, desde que essa curva seja achatada, a gente pode pensar em reabrir determinado comércio, sempre com critérios técnicos”, respondeu.

Ações contra covid-19

O prefeito Rui Palmeira prestou contas de ações para evitar o contágio pelo novo coronavírus, como a desinfecção de áreas públicas e as fiscalizações para que haja o cumprimento das medidas preventivas dos decretos municipal e estadual em vigor. Além de relatar a distribuição dos kits de merenda escolar para os alunos da rede pública, sem aulas em razão da pandemia.

Ele ainda estacou os serviços como o Atende em Casa e o Call Center da Saúde, pelo telefone 156, das 7h às 19h, que têm o objetivo de orientar a população e evitar a aglomeração causada por deslocamentos desnecessários às unidades de saúde. E o secretário José Thomaz Nonô detalhou os números de atendimentos realizados por toda a rede das unidades básicas de saúde, UDAs de Maceió, e os mais de cinco mil atendimentos realizados pelas Unidades de Referência em Síndromes Gripais.

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