Mineradora defendida

FIEA tenta unir Rui e Renan Filho em defesa da Braskem, após tragédia em Maceió

José Carlos Lyra alerta que Alagoas não pode ficar sem mineradora que arriscou milhares de vidas

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Presidente da FIEA José Carlos Lyra reunido com prefeito Rui Palmeira e governador Renan Filho. Foto: Josué Seixas/FIEA

Com o discurso de que tenta assegurar que a rivalidade política “não se sobreponha ao interesse público”, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA), empresário José Carlos Lyra de Andrade, tenta unir o governador Renan Filho (MDB), e o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), em defesa da mineradora Braskem, que causou uma tragédia que fez a terra tremer na capital alagoana e ameaça a vida de milhares de maceioenses, com a a atividade de extração de sal-gema que reativou uma falha geológica adormecida há milhões de anos.

Sem citar os bairros do Mutange e Bebedouro entre os três bairros com solo e subsolo danificados pela mineradora, Carlos Lyra diz ter como objetivo discutir soluções para o bairro do Pinheiro e a Braskem, exaltada como uma das principais empresas da indústria alagoana. O empresário afirma que Alagoas não pode prescindir de nenhuma indústria, muito menos com o peso econômico da Braskem.

“A hora é de unidade, e os dois, como maiores dirigentes públicos do Estado, estão conscientes de que precisam dialogar e buscar, juntos, a solução para um problema que é grave, e é de todos os alagoanos”, defendeu Lyra, na tarde desta quinta-feira (13), depois de se reunir com o prefeito Rui Palmeira, três dias depois de já ter se encontrado com o governador Renan Filho.

Segundo a assessoria da FIEA, Carlos Lyra quer atuar como ponte entre o governador e o prefeito, que chegaram a marcar encontro sobre o tema, mas não ajustaram suas agendas, depois que Rui Palmeira denunciou a ausência de retorno do governo de Renan Filho para pedidos oficiais urgentes por ações emergenciais para evitar mortes, evacuando áreas de maior risco de desabamentos. Todo essa ameaça a integridade e ao patrimônio dos maceioenses é causada pelas rachaduras decorrentes de afundamentos de pelo menos 40 centímetros, registrados desde 2016 na região com cerca de 40 mil habitantes.

Mineração predatória como solução

O Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública de Alagoas, que defendem os interesses da sociedade em seus papéis institucionais, denunciam a omissão da Justiça diante dos dados científicos que apontam a mineração como causa concreta da tragédia geológica, em ação que cobra um bloqueio judicial de R$ 6,7 bilhões do patrimônio da Braskem para iniciar as indenizações e agilizar a retirada das vítimas das áreas de risco. Enquanto isso, José Carlos Lyra ressalta “os prejuízos que a suspensão das atividades da Braskem representam”, ao pedir que Rui e Renan Filho voltem a conversar.

“Se isso [o fechamento da Braskem] ocorrer, estaremos diante de uma reação em cadeia que vai atingir vários segmentos de nossa economia, especialmente a cadeia da química e do plástico. Esse segmento tem mais de 80 empresas e gera cerca de 15 mil empregos”, argumenta José Carlos Lyra, em material divulgado pela sua assessoria.

Sem citar diretamente a necessidade de a Braskem indenizar as milhares de vítimas pelos danos que causou, segundo estudos científicos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Carlos Lyra tenta incentivar o diálogo entre os gestores públicos, com o argumento de que busca por soluções para “problemas do Pinheiro e outras questões de natureza administrativa, como a realização de obras de infraestrutura na capital alagoana”.

“Não há outra forma de buscar soluções para problemas de tamanha gravidade que não seja por meio do diálogo franco, com foco nos interesses do Estado e de sua população”, disse o presidente da FIEA.

Lyra afirma ter notado que ambos os gestores estão conscientes de que qualquer rivalidade política supera o interesse da sociedade.

O presidente da FIEA foi um dos integrantes da cúpula da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) presos em fevereiro na Operação Fantoche, deflagrada pela Polícia Federal em parceria com o Tribunal de Contas da União (TCU), contra uma suposta organização criminosa suspeita de desviar R$ 400 milhões do Sistema S e do Ministério do Turismo. Lyra e outros presos já reassumiram os cargos e descartam terem cometido ilegalidades.

Afundamento do solo em Maceió foi causado pela mineração da Braskem. Fotos: Márcio Ferreira/Agência Alagoas

 

Inércia minimizada

Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura de Maceió, até a manhã desta sexta-feira (14), Rui e Renan Filho não voltaram a manter contato para agendar o encontro. A expectativa é de que ambos se falem ainda hoje, para marcar a reunião sobre as  ações urgentes necessárias em defesa da população vítima da Braskem.

A Defesa Civil Estadual e as secretarias de Meio Ambiente e Infraestrutura de Alagoas estão participando junto com a Prefeitura de Maceió do ciclo de debates para a construção do plano de ações que será validado em Brasília (DF) pelo governo federal. Mas os órgãos estaduais nunca responderam aos ofícios enviados pela Prefeitura de Maceió, cobrando as seguintes medidas.

A Braskem afirma que ainda busca as causas dos problemas de que é denunciada como causadora. E diz ter compromisso pela busca de respostas e soluções para os problemas. 

Calamidade reconhecida

Em 28 de maio, o secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Alexandre Lucas Alves, reconheceu o estado de calamidade no município de Maceió (AL), em decorrência de subsidências e colapsos no solo, que afundou pelo menos 40 cm desde 2016, em alguns pontos.

A Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo) expôs na segunda-feira (10) a perspectiva de uma tragédia anunciada, que exige medidas de evacuação imediatas da população das áreas críticas com solo danificado pela mineradora Braskem.

Clique no Mapa de Setorização de Danos e de Linhas de Ações Prioritárias para os bairros e veja mais detalhes:

Veja como a mineração afetou o solo dos bairros de Maceió:

 

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