Confusão em Alagoas

Ex-vice-reitor agride eleitor de Bolsonaro e diz que depois levou joelhada

Jovem que filmava reunião petista em universidade teve o celular danificado

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Ex-vice Reitor da Uneal Clebio Araujo agrediu eleitor de Bolsonaro que o filmava no ato político na universidade

Após tentar derrubar no tapa o celular de um eleitor do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) que filmava um ato político nas dependências da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), o ex-vice-reitor Clébio Araújo acusou o apoiador do candidato do PSL de agredi-lo com uma joelhada, na noite de ontem (24). A ocorrência policial aconteceu durante o evento intitulado “Ato público em defesa da democracia e da universidade pública”, organizado pela reitoria e o sindicato dos servidores, em Arapiraca (AL). A Uneal negou ter promovido ato eleitoral.

Imagens feitas pelo celular do acusado mostram a reação agressiva do ex-reitor contra o apoiador de Bolsonaro, que foi cercado por participantes do evento que reuniu apoiadores do candidato Fernando Haddad (PT). O presidente do PSL em Alagoas, Flávio Moreno, reagiu nas redes sociais acusando o reitor de agredir e se fazer de vítima.

Levado à delegacia com o eleitor de Bolsonaro, Jeferson Daniel Silva Constantino, de 20 anos, o professor Clébio Araújo relatou ao delegado Igor Diego Vilela Costa que levou uma joelhada na virilha, que teria sido desferida pelo rapaz que filmava participantes do evento.  O ex-dirigente da Uneal nega que o evento tenha relação com o PT, e diz que o convite para o evento desmente o cunho eleitoral atribuído ao encontro.

“A Uneal é plural e não será intimidada por nenhum partido político”, diz Clébio Araújo, ao afirmar que a universidade foi “atacada” pelo PSL e que tentou tomar o celular para apagar as imagens.

Veja o trecho em que o professor agride o eleitor de Bolsonaro:

O Diário do Poder tentou contato com o ex-vice-reitor para saber se ele realizou exame de corpo de delito para registrar a suposta agressão que denunciou. A reportagem não obteve respostas, mas Clébio Araújo publicou em seu perfil do Facebook a informação de que fez o exame no Instituto Médico Legal, mas não foi detectada marca alguma da joelhada que ele denuncia ter sofrido.

Mas o professor reafirmou a agressão, dizendo que o momento inicial do seguinte vídeo mostraria o golpe, quando o Jeferson Daniel inclina o corpo para trás, em meio à confusão da disputa pelo celular:

 

O jovem que o filmava teve o celular derrubar por outra pessoa e não relatou à polícia ter saído machucado da disputa pelo celular.

‘Esquerda covarde’

O Jeferson Daniel nega ter agredido Clébio Araújo. E admitiu ao delegado que foi enviado à Uneal pelo direção local do PSL, representada por Saulo França, com o objetivo de flagrar o ato como um ilícito eleitoral. Para o presidente do PSL em Alagoas, a atitude demonstraria covardia da militância de esquerda.

“Esquerda covarde! O agressor se faz de vítima. Uma vergonha. Esses comunistas precisam ser barridos [sic]. E mais ainda, cometem crime eleitoral, propaganda eleitoral dentro de universidade pública. E a imprensa vai fazer o jogo deles, publicar mentiras”, disse Flávio Moreno, que disputou uma vaga de senador em Alagoas.

No vídeo publicado no Facebook, o ex-vice-reitor da Uneal disse ter sido agredido com uma joelhada, depois de conseguir segurar o celular que já não gravava nada e o disputava com rapaz.

O delegado regional de Arapiraca, Igor Diego Vilela, explicou em uma entrevista a uma rádio local que não foi constatada nenhuma ameaça de ambas as partes e nem lesão corporal, na delegacia.

“Foram registrados todos os fatos, provas e recolhidas as imagens, para que a Polícia Civil, se entender necessário, instaure inquérito. O aparelho do jovem continua funcionando e o que houve foi a tentativa de cessar a gravação e, consequentemente, de apagar as imagens de uma pessoa que se sentiu prejudicada com elas”, disse delegado que assinou o boletim de ocorrência.

Sobre a legalidade do ato partidário dentro da universidade, o delegado lembrou que a legislação eleitoral veda que servidores públicos cedam ou usem espaços públicos para beneficiar partido, candidato ou coligação. “Caso se comprove isso, cabe representação ao Ministério Público Eleitoral e à Justiça Eleitoral, pois é um ilícito, e não, um crime eleitoral”, concluiu.

A Uneal publicou a seguinte nota sobre a ocorrência policial:

Diante dos fatos ocorridos na noite desta quarta-feira (24), no prédio da Reitoria, em Arapiraca, a Universidade Estadual de Alagoas vem a público esclarecer que, em toda a sua história, sempre prezou por se manter como um espaço democrático para os diversos debates de interesse da sociedade, garantindo a liberdade de a comunidade acadêmica promover eventos que tenham como fim a liberdade de expressão e pensamento.

É importante frisar que, como é de praxe na rotina acadêmica, estava marcado para a noite desta quarta-feira, um ato em defesa da democracia, em virtude dos 30 anos de promulgação da Constituição Federal do Brasil. Neste evento, os organizadores visavam debater avanços e retrocessos das normas previstas na Carta Magna brasileira, defendendo a democracia e a liberdade de expressão. Sendo, esta, portanto, mais uma iniciativa rotineira no âmbito da Universidade. Frisamos que a instituição está aberta para debater quaisquer correntes políticas, desde que respeitados os limites dos direitos individuais e coletivos.

A Uneal repudia qualquer ato que vise somente perturbar o desenvolvimento habitual das atividades acadêmicas, bem como qualquer ação que enseje constrangimento de qualquer indivíduo que ali esteja.

Deste modo, ressalta ainda que não serão tolerados atos de agressão ou de intimação, como o ocorrido nesta data, quando um homem não pertencente à comunidade acadêmica, entrou na Universidade, intimidando professores, estudantes e técnico-administrativos com palavras de baixo calão enquanto gravava a circulação das pessoas, sem nenhuma autorização prévia.

Prestamos solidariedade ao professor Clébio Correia de Araújo que, diante da intimidação promovida pelo suspeito, saiu em defesa da liberdade de expressão e de pensamento da comunidade acadêmica que pacificamente chegava à Uneal para suas atividades.

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