Batalha, Alagoas

Entrega de título a presidente do TRE ignora vereadores assassinados

Homenagem não lembrou casos de vereadores assassinados

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A homenagem, finalmente realizada, foi aprovada em 2016 pelos vereadores. (Foto: TJAL)

Em meio a homens armados, em um cenário ainda tenso por causa da ausência de respostas efetivas do poder público para os assassinatos de dois de seus vereadores no fim de 2017, o Município de Batalha, no Sertão alagoano, recebeu a cúpula dos três poderes e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), na última sexta-feira (18), para homenagear o presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE-AL), desembargador José Carlos Malta Marques, com o título de cidadão honorário batalhense.

O simbolismo do evento após as tragédias políticas não se conteve à homenagem ao desembargador que viveu no município, mas também às presenças do vice-presidente do Superior Tribunal e Justiça (STJ), Humberto Martins; do governador interino Otávio Leão Praxedes, que preside o Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL); do desembargador Celyrio Adamastor Tenório Accioly, vice-presidente no exercício da Presidência do TJAL; do presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE), Luiz Dantas (MDB-AL), e da prefeita Marina Dantas (MDB), cuja família foi acusada por parentes do vereador Adelmo Rodrigues de Melo, o “Neguinho Boiadeiro” (PSD), assassinado em 09 de novembro de 2017, ao sair de uma sessão do Legislativo que também perdeu o vereador Tony Carlos Silva de Medeiros, o “Tony Pretinho” (PR), no mês seguinte.

Os integrantes da cúpula dos três poderes não dedicaram nenhuma palavra ao momento crítico de uma guerra típica do coronelismo político que vitimou dois dos integrantes da instituição que patrocinou aquela homenagem. Somente o ex-prefeito Aloísio Rodrigues citou indiretamente o momento “turbulento” que impediu a entrega da homenagem em 2017.

Tal contexto não ofuscou a homenagem ao desembargador Malta Marques, que integra a Câmara Criminal do TJAL e empenhou esforços para construir o Fórum de Batalha, em 2014, quando presidiu o Judiciário de Alagoas. A homenagem foi proposta pelo ex-prefeito Aloísio Rodrigues, em 2016, e aprovada pela Câmara de Batalha, ainda com votos dos vereadores assassinados.

RESPOSTAS PENDENTES

Neguinho Boiadeiro e Tony Pretinho, mortos em 36 dias. Fotos:DivulgaçãoApesar da festividade e da indiferença das instituições ali representadas, as autoridades sabem que Batalha não superou seus problemas. Prova disso é o inquérito, ainda em aberto e sem apontar mandantes da morte do vereador Neguinho Boiadeiro. Outra prova é o fato de o entorno do evento ter ostentado armas da segurança oficial das autoridades, bem como de homens à paisana facilmente confundidos com capangas não se sabe de quem.

Exemplo do cenário belicoso que permeou a solenidade da última sexta, é o fato de o ex-prefeito Paulo Dantas – esposo da atual prefeita que prestigiou o evento – ter ajuizado queixa-crime contra José Márcio Cavalcante, o “Baixinho Boiadeiro”, que é filho do vereador Neguinho Boiadeiro e acusou Dantas de ser o mandante da morte de seu pai. Baixinho está sendo caçado pela polícia alagoana desde o dia da morte de seu pai, quando trocou tiros com José Emílio Dantas. E ainda foi apontado pela Polícia Civil como autor material do assassinato do vereador Tony Carlos Silva de Medeiros, o “Tony Pretinho” (PR), em suposto ato de vingança, 36 dias depois da morte de Neguinho Boiadeiro.

Em declarações recentes, o presidente da Assembleia, Luiz Dantas, demonstrou estar interessado no desfecho dos crimes que fizeram Baixinho Boiadeiro evidenciar suspeitas de ilegalidade contra sua gestão da Assembleia Legislativa, que estariam sendo investigadas pelo vereador assassinado e, agora, pela Polícia Federal, no âmbito da Operação Sururugate.

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