'DE CABEÇA ERGUIDA'

Desembargador alagoano diz que viveu ‘calvário’, após acusações de corrupção

Washington Luiz participou de primeira sessão do Pleno do TJ de Alagoas, depois de dois anos afastado

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Desembargador Washington Luiz Damasceno Freitas do TJ de Alagoas. Foto Caio Loureiro/Dicom TJAL

Uma semana depois de ser absolvido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) da acusação de vender liminares ao Cartel da Merenda, o desembargador Washington Luiz Damasceno Freitas participou da sessão do Pleno do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL) desta terça-feira (3) e afirmou que volta à judicatura “com a cabeça erguida e a alma revigorada”. Seu retorno ao trabalho, após o episódio que classificou como um ‘calvário’, restabelece a formação completa do Pleno do TJAL, com 15 desembargadores.

O magistrado, cujo ex-assessor recebeu R$ 250 mil antes da expedição de liminares favoráveis ao cartel, discursou para uma lotação incomum nas sessões do Pleno. E agradeceu pelo apoio recebido durante seu afastamento determinado há dois anos pelo CNJ, quando presidia o TJ de Alagoas. E atribuiu seu retorno à “misericórdia de Deus”.

Após agradecer à “graça divina alcançada” e aos que lhe foram solidários e respeitosos no período que chamou de “tormentoso”, Washington Luiz disse ter passado pela fase mais turbulenta de sua vida. E ressaltou que os três processos administrativos disciplinares que motivaram seu afastamento foram julgados improcedentes pelo CNJ.

“Na vida, existem períodos de sol e de escuridão. Há momentos de esperança e outros de trevas, mas sabemos também que nada é definitivo. Superada essa fase difícil da minha vida, procurarei agir com redobrada cautela e comedimento, em todas as ações da minha vida. Sou consciente de que vários fatores contribuíram para a minha volta, mas o principal foi a misericórdia de Deus”, discursou o desembargador.

‘Prova de justiça e comemoração’

O presidente do TJAL, Otávio Leão Praxedes tratou o retorno de Washington Luiz à magistratura como “prova de justiça”.  E o desembargador Fernando Tourinho foi ainda mais enfático ao receber o colega de Pleno e sugeriu uma comemoração. 

“Hoje é um dia emblemático para o Poder Judiciário de Alagoas. Devemos agora olhar para a frente. O seu retorno restabeleceu os 15 componentes do Tribunal. É o momento de nos unirmos, de julgarmos mais, de apoiarmos o primeiro grau de jurisdição e darmos melhores condições de trabalho aos servidores”, disse Tourinho.

O desembargador Klever Loureiro afirmou que Washington Luiz fez muito pelo Tribunal de Justiça. “Vossa sabedoria dignifica o Judiciário alagoano”. E Celyrio Adamastor também disse estar feliz com o retorno do amigo, e disse ter sido um prazer ter assinado seu termo de reassunção de funções.

Já o juiz Ney Alcântara, presidente da Associação Alagoana de Magistrados (Almagis), discursou dizendo que “toda vez que um magistrado é afastado, neste nosso Brasil, com certeza, as consequências são trágicas não só para o magistrado, mas para todo o Poder Judiciário”.

Os processos

Dos três processos do CNJ com acusações contra Washington Luiz, o primeiro caiu em setembro de 2017, quando o magistrado foi absolvido da suspeita de usar seu cargo para favorecer e proteger o prefeito do município de Joaquim Gomes (AL), Antônio de Araújo Barros, vulgo Toinho Batista.

Já em abril deste ano, Washington Luiz foi inocentado da acusação de que travou o trâmite de um processo criminal instaurado contra seu então genro, Christiano Matheus (PMDB), ex-prefeito do município de Marechal Deodoro (AL).

Há uma semana, com a exceção da presidente Cármen Lúcia e do conselheiro Luciano Frota, os demais integrantes do CNJ decidiram que não havia provas de vínculo que ligassem ao ex-presidente do TJ de Alagoas os depósitos de R$ 250 mil que antecederam decisões liminares suspeitas do desembargador. E o próprio relator Aloysio Corrêa da Veiga, que defendeu sua absolvição, admitiu terem sido teratológicas e graves as liminares expedidas em favor da empresa SP Alimentação, integrante do cartel que atuava em 57 municípios dos estados de Alagoas, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Assista a matéria da TV Tribunal sobre o retorno de Washington Luiz ao Pleno do TJ de Alagoas:

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