Tolerância zero

Após OEA criticar abate de 11 do ‘novo cangaço’, deputados elogiam polícia alagoana

Comissão Interamericana de Direitos Humanos vê indícios de execução extrajudicial, em Santana do Ipanema

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Plenário da Assembleia Legislativa de Alagoas (Foto: Ascom ALE)

Um dia depois de a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) citar a Operação Cavalo de Troia no relatório que encerrou sua visita ao Brasil para observar a situação dos direitos humanos no país, a sessão desta terça (13) na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas (ALE) foi marcada por elogios de deputados estaduais à atuação dos policiais que participaram da ação deflagrada no Sertão alagoano, na última dia quinta (8). A operação resultou na morte de 11 acusados de assaltar bancos no bando conhecido como o “novo cangaço” do Nordeste, com uso de explosivos e armamento pesado apontado para reféns.

O órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA) apontou em seu relatório da visita riscos de que o discurso de tolerância zero contra o crime organizado possa reforçar métodos maquiavélicos na segurança pública, com execuções extrajudiciais. E cobrou investigação rigorosa e esclarecimentos da ação numa casa tomada pelos criminosos na zona rural de Santana do Ipanema (AL), além de recomendar que o Estado brasileiro amplie o controle da atividade policial, para garantir o respeito ao uso proporcional da força.

No plenário da Assembleia Legislativa de Alagoas, o deputado Gilvan Barros Filho (PSD-AL) exaltou a bravura de homens e mulheres da Polícia Civil de Alagoas que participaram da investigação que desarticulou o bando que tinha extensa ficha policial com diversos crimes. E destacou que os agentes de segurança colocaram a própria vida e a de seus familiares em risco, uma vez que ainda restam integrantes da organização criminosa.

“A quadrilha extremamente perigosa aterrorizava os locais por onde passava, fazia de seres humanos seus escudos e a polícia, numa intensa troca de tiros, neutralizou do convívio da sociedade”, disse Gilvan Barros Filho.

Os deputados Dudu Hollanda (PSD-AL) e Bruno Toledo (PROS-AL) reforçaram o pronunciamento. “Temos que reconhecer o trabalho desse bravos policiais alagoanos que enfrentaram essa quadrilha perigosa que agia em todo Norte e Nordeste. Todos eles condenados e procurados pela polícia”, afirmou Hollanda.

“Pela ação enérgica, que conseguiu eliminar do seio da sociedade brasileira 11 elementos que faziam um desserviço para ordem pública. Elementos que, pela ficha corrida, já demonstram a periculosidade”, destacou Toledo.

Delegados observam mortos em ação policial em Santana do Ipanema. Fotos: WhatsApp

Refém na própria casa

Nesta terça, a dona da casa invadida pelo bando prestou esclarecimentos à polícia, na sede da Delegacia Especializada de Investigações e Capturas (Deic). E revelou que foi colocada em um quarto da casa, entre 4h da manhã da quinta, quando sua residência foi tomada, até o final da manhã, quando foi libertada e ameaçada para não contar nada à polícia. E escapou do cerco, por uma diferença de cerca de seis horas até o banho de sangue.

O delegado Fábio Costa, coordenador da Deic, divulgou o organograma da organização criminosa que afirma ter recebido os policiais com tiros, no local em que foram apreendidos explosivos, armas, munição e dinheiro atribuído ao assalto no dia anterior, em Águas Belas (PE), quando o grupo foi filmado fugindo com reféns e fortemente armados.

Confira: Apresentação sobre a Operação Cavalo de Troia.

E veja o trecho do relatório da visita da CIDH ao Brasil que cita o a operação em Alagoas:

Em particular, o discurso da tolerância zero ou mão dura na luta importante contra o crime e o crime organizado pode fortalecer concepções incompatíveis com padrões internacionais de que os fins justificam os meios em segurança pública. Padrões adequados de segurança cidadã exigem que se denuncie, processe e castigue quaisquer abusos do poder policial. A experiência mostra que a exacerbação desses discursos fortalece o risco de aumento das execuções extrajudiciais. Durante a semana da visita da CIDH no Brasil, identificamos um episódio que deve ser investigado com rigor pelas autoridades, com a morte de 11 membros de um grupo criminoso que tinham participado em um assalto a uma agência bancária, em Santana do Ipanema (AL), pela Polícia Civil de Alagoas. Não houve nenhum policial ferido. A CIDH alerta para indícios de execuções extrajudiciais e espera que as circunstâncias sejam esclarecidas de maneira rápida e diligente. A CIDH recomendou que o Estado brasileiro amplie os mecanismos de controle da atividade policial, para garantir que atuem dentro do marco do respeito pelo uso proporcional da força.

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