DP Entrevista

Collor quer voto do brasileiro desassistido e ressentido com classe política

Presidenciável do PTC afirma saber lidar com as questões nacionais

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Senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello - Foto: Divulgação Facebook

O senador e ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (PTC-AL) resistiu ao ensaio de um recuo partidário sobre sua pré-candidatura presidencial e tenta convencer os brasileiros a ir às urnas e acolher seu projeto de recuperação da economia e realização de reformas. O primeiro presidente eleito pelo voto popular após o Regime Militar no Brasil afirmou nesta terça-feira (10) ter sido estimulado a voltar a comandar o Palácio do Planalto pelo diagnóstico de que o brasileiro vive um momento de desesperança, desassistência e ressentimento com a classe política.

Em entrevista exclusiva ao Diário do Poder, Collor explicou porque aposta no slogan “A experiência faz a diferença”, 26 anos após deixar o cargo de presidente, em meio a um processo de impeachment. E disse que considera ter como obrigação e dever de ofício saber como lidar com as questões nacionais e expor suas propostas.

Suas ideias para o eleitor, segundo explica o ex-presidente, nasceram da observação das necessidades atuais do cenário de crise nacional; das soluções empregadas com sucesso em seu governo e também das lições tiradas dos erros cometidos.

Ao negar ter intenções de disputar o Governo de Alagoas e relatar avanços nascidos em seu presidência, Collor disse ter como meta voltar a distribuir renda para os trabalhadores mais pobres, através da recuperação da economia e da geração de empregos, com o mesmo êxito reconhecido recentemente pelo Banco Mundial ao tratar da abertura comercial promovida em seu governo, no início da década de 1990.

Quando questionado sobre o que dirá ao eleitor sobre as acusações de que se defende na Operação Lava Lato, garantiu que haverá um momento da Justiça em que sua inocência vai prevalecer e demolir acusações que considera infames. E disse ser preocupante para a democracia, “quando implicados procuram levar os seus mal feitos à custa da reputação alheia, sem apresentar qualquer dado concreto”.

Confira a entrevista:

Como o senhor se sente com esta oportunidade de refazer esta caminhada rumo ao Palácio do Planalto, quase 26 anos depois de deixar a presidência da República?

Bom, eu estou participando deste processo e estou na disputa eleitoral, porque eu desejo submeter a minha proposta ao julgamento do povo Brasileiro. Estou fazendo isso porque acho que eu não poderia deixar de oferecer ao debate nacional a minha experiência acumulada ao longo dos anos. Tanto experiência de vida, quanto experiência política e de administrador e gestor público, para retirar o País da crise em que ele está inserido. Eu acho que é minha obrigação fazer isso e não me ausentar desse debate. Por isso que julgo que posso dar a minha contribuição ao debate político das propostas que, apresentadas, precisam ser implementadas, para que nós encontremos o caminho do crescimento econômico com consequente geração de emprego e de renda.

Seu slogan, pelo menos nesta pré-campanha, é “A experiência faz a diferença”. Como sua experiência pode ajudar o Brasil a superar a crise em que se encontra?

A experiência é porque essa não é exatamente uma disputa para meninos de calça curta. Menino de calça curta que digo é que lhe falta ainda [experiência]. Porque não é uma questão de problema pessoal de cada de não ter isso. É porque a experiência se adquire somente com a idade, com o tempo. Então, pretendo colocar tudo isso que adquiri dessa experiência e dessa visão de um Brasil que eu conheci e transformei. Não dito isso por mim, mas pelo Banco Mundial que apresentou, em abril deste ano, um relatório. E passo a ler o que o Banco Mundial diz: ‘Reconhece a liberalização comercial do governo Collor, que gerou ganhos para os mais desfavorecidos. O aumento do rendimento real das famílias pobres foi o dobro do aumento dos rendimentos das famílias mais ricas’, diz o Estudo que ainda reconhece a geração e milhões de postos de trabalho decorrentes da abertura. E finaliza dizendo: ‘O Brasil necessita de uma nova abertura comercial nos moldes daquela realizada pelo governo Fernando Collor – 1990 a 1992’. Então essa é uma oportunidade de, também mostrando com base na experiência e na visão do Brasil de hoje, e comparando com os problemas que atravessamos lá atrás, na década de 1990, de poder oferecer propostas que venham ao julgamento da população brasileira. E essas propostas não são diferentes daquelas estruturantes que apresentei em 1989. Eu concordo com o que diz o Banco Mundial, que o Brasil precisa de uma nova abertura comercial. Porque, depois que deixei a Presidência, houve realmente, de forma paulatina, um fechamento novamente da economia brasileira. E, hoje o ambiente de negócios precisa ser melhorado e muito. O grau de confiança dos investidores na economia Brasileira precisa ser recuperado. Para alguns que fazem negócios com o Brasil, que investem no Brasil e brasileiros que precisam ampliar a sua capacidade produtiva, eles precisam de segurança jurídica de que todas essas suas iniciativas terão a garantia do governo federal. Isso é algo extremamente importante. E somente um presidente eleito pelo voto popular e que tenha compromissos claros e bem definidos com essas questões, eu acredito, terá condições de atrair a atenção de uma parcela importante do eleitorado.

Fernando Collor Foto: Agencia Senado

E qual seria seu diferencial para o eleitor, neste aspecto?

E, de minha parte, sem desmerecer qualquer outro candidato, acredito que eu tenha a meu favor o fato de que não causo no telespectador ou no ouvinte, quando apresentar uma proposta, aquela pergunta: ‘Será que ele vai fazer isso mesmo?’. Porque tenho a resposta: ‘Não é que eu vá fazer isso. Eu já fiz. Eu já fiz isso. Então, não cabe em vocês uma dúvida quanto a isso’. E quer dizer que vai fazer a mesma coisa que fez lá atrás? Sim, fazer a mesma coisa em termos das reformas estruturantes promovidas; das reformas que fiz, da legislação que aprovei, como o Código de Defesa do Consumidor, como a Lei Rouanet, como a quebra dos monopólios privados que existiam, com a abertura comercial estabelecendo vínculos com a comunidade internacional, mostrando que o Brasil merecia ser considerado um parceiro confiável nas suas relações com outros países. E tudo isso foi conquistado, com a renegociação da dívida externa, tornando o País habilitado a receber financiamentos e créditos no exterior. Enfim, o trabalho realizado no campo dos Direitos Humanos, que é muito extenso e amplo. São vários os pontos que atacamos e conseguimos êxitos extremamente favoráveis ao Brasil. E isso posso dizer sem incorrer em falsa modéstia, porque é dita pelos meus adversários. A abertura comercial a as outras medidas promovidas pelo meu governo na agenda de 1999 foi que permitiu ao Brasil, por exemplo, implementar o Plano Real. Isso foi dito pelo próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Temos também a Lei do SUS [Sistema Único de Saúde], que aí está, também foi sancionada no meu governo.

Como o senhor avalia o funcionamento do SUS, atualmente?

Infelizmente, hoje, o SUS está em uma situação muito difícil em função da precariedade dos recursos que vêm sendo destinados ao sistema. Mas é um sistema excepcional. E, voltando à normalidade a situação do Brasil, fruto das reformas que eu também irei apresentar e que poderão ajudar nisso, ele [o SUS] vai ser um programa exemplo para o restante do mundo. Agora mesmo, estamos envolvidos com esta questão do sarampo. O noticiário diário nos dá conta de que o sarampo voltou para o Brasil.  E lembro na campanha de vacinação que nós fizemos em 1992, no meu governo vacinamos 48 milhões de crianças, 99,7% de cobertura vacinal. É um número acima do que Organização Mundial da Saúde existe de cobertura vacinal. E durante 25 anos não houve casos de sarampo, agora recentemente voltou a ter o sarampo e nada disso foi previsto com o trabalho de manutenção que deveria ter sido feito depois de 1992, que foi o ano exatamente em que fui afastado da Presidência. Nós investimos naquele momento com todas as dificuldades mais de 150 milhões de dólares na compra não somente das vacinas como também na logística da operação. Você imagine o que é vacinar todas as crianças em idade de vacinação, naquela época, eram 48 milhões de crianças, em três ou quatro dias.

Quais as necessidades dos brasileiros que o senhor considera prioritárias, no atual contexto nacional?

Eu pretendo, com a minha experiência de dizer: ‘Isso aqui eu já fiz, não deu muito certo, vou fazer de forma diferente. Isso aqui deu certo, vou reafirmar esses pontos. Mas  sobretudo na questão dessas reformas que são necessárias, nós precisamos voltar nossas vistas para falar para a população sobre os problemas e as agruras de que ela está sendo vítima hoje. A gente vê o noticiário e: ‘Porque os juros já baixaram de 6,5% para 6%; porque a inflação está abaixo do teto da meta, em 3,75%; porque o índice de emprego está melhorando; porque a balança comercial…’.  Então, essas são mensagens e são ganhos importantes para a economia. Mas, isso dito, como vem sendo repetido todos os dias, não alcança a população. A população não se sente acolhida, ou de alguma forma aliviada com essas notícias que são repassados. Ela não tem aquela reação: ‘Ah! Quer dizer que isso aí baixou? Ah! Quer dizer que o juro baixou? Que a inflação tá controlada?’. No caso específico da inflação,  nem ela acredita porque não está sentindo essa queda no bolso. Então, o que a população está querendo saber é: ‘Vem cá, vocês estão discutindo essas coisas palavras muito bonitas, esse economês aí que ninguém entende nada, mas eu quero saber as propostas que vocês têm para mim, por exemplo, que perdi o meu emprego; ou, em função de perda de emprego, perdi meu carrinho, que com muito esforço eu comprei, financiei em não sei quantos meses e já tive que devolver. E aí? O que vão fazer para isso, para devolver o meu emprego?’. A dona de casa perguntando: ‘Quando vou ter de volta a minha van que leva minha criança de casa até a creche e me permite a ter um segundo emprego e agora não vou ter mais. E não posso mais trabalhar porque vou ter que levar e buscar a criança na escola’. Aquela pessoa que não pode mais pagar sua casa, teve que vendê-la e voltar a morar com seus pais, todos aboletados numa casa mais pequena, de seus parentes. Esses que estão perdendo até esperança de poder encontrar uma nova alternativa para o seu ganho. Aquelas pessoas que já não conseguem pagar o bujão de gás a R$ 70 com essa paralisação que houve dos transportes. Chegou a ser comercializado a R$ 120 um bujão de gás. Era R$ 63, hoje está em R$ 70. E as pessoas estão usando fogão de lenha novamente. Então, essas respostas do que afligem o cotidiano da população é que necessitam ser oferecidas de forma prática e objetiva.  E sendo oferecidas de forma compreensível, que essa população se sinta motivado a sair de suas casas, comparecer às seções eleitorais e depositar o eu voto. E não votar em branco ou nulo. Porque, hoje em todas as pesquisas feitas no Brasil, o índice de pessoas que dizem que não vão votar, ou, indo votar, vão votar em branco ou nulo vai de 45% a 55%. Na eleição do Tocantins, 57,5% da população não compareceu às urnas, ou votou nulo ou branco. Na eleição, meses atrás, no Amazonas, houve 47,8% do eleitorado não votou ou votou em branco ou nulo.

Pré-campanha de Collor destaca avanços (Fotos: Facebook)

O que o faz acreditar que terá a confiança do eleitor nesta nova empreitada?

Em primeiro lugar o diagnóstico. O diagnóstico é de uma profunda desesperança de uma população que se entende, que se vê desassistida, portanto ressentida. É uma população carente de esperanças, descrente. É uma população que está, enfim,  desacreditando de tudo e de todos. E, naturalmente, a primeira vítima de todo esse processo, não sem razão, é a classe política. ‘Vocês não estão fazendo, nem estão vindo de acordo com aquilo que nós esperamos e necessitamos. E, por isso, nós estamos agora revoltados e não queremos mais participar desse processo’. O que é necessário é acordar essas pessoas com propostas claras, e dizendo como isso vai ser feito.  E essas pessoas podem ser levadas ao convencimento de que, ‘Sim, vale a pena eu sair dessa minha posição de relativa a comodidade – de não ir votar ou de votar branco e nulo – e participar do processo eleitoral’. Porque, somente com a participação do eleitorado – é isso que o eleitorado precisa entender -, somente com a participação dele é que nós poderemos avançar, dar, de alguma forma, coesão e rumo a uma sociedade está hoje dividida, portanto, sem coesão. Hoje, nós vemos uma sociedade brasileira como eu, na minha existência física, humana, nunca assisti, no Brasil, uma cisão tão forte e complexa que estamos vivenciando. É uns contra os outros. Então, essa coesão que une uma sociedade com nenhuma nação em busca de um propósito comum, ela deixou de existir. Então, nós estamos precisando recuperar essa coesão, para termos uma linha de ação objetiva, no sentido de sanar esses problemas que nós estamos vivenciando hoje em dia.

Parte desse desgaste da classe política tem relação com a Operação Lava Jato. O que o senhor diria ou dirá para o eleitor a respeito das acusações de que se defende no âmbito desta operação?

Bom, em primeiro lugar, eu gostaria de dizer o seguinte. Que haverá um momento da Justiça em que a minha inocência vai prevalecer e demolir essas acusações. Não vejamos a infâmia das delações sem provas. É preocupante para a democracia, quando implicados procuram levar os seus mal feitos à custa da reputação alheia, sem apresentar qualquer dado concreto. Mas, sem dúvida, essas acusações apresentadas terão seu tempo e enfrentamento adequados. Agora,  eu estou na disputa eleitoral e quero, como disse anteriormente, submeter minha proposta ao julgamento do povo brasileiro.

Como o senhor avalia o quadro de candidatos a presidente com que vai concorrer?

Os candidatos, todos eles, têm seus méritos. Todos eles, sem querer desmerecer qualquer um. E, até pela própria existência de um fato de que não podemos nos afastar, é que dos  candidatos apresentados, o único que é ex-presidente e candidato sou eu. E, como ex-presidente, tenho muito maior responsabilidade por tudo do que outros. Porque eu já fui presidente e tenho por obrigação, por dever de ofício saber como lidar com as questões nacionais. Algo que ainda nenhum deles teve a oportunidade de fazê-lo. E é por isso que vejo ser importante para o debate a minha participação nesse processo. Mas acho que todos têm os seus méritos e todos merecem a oportunidade de oferecer à população brasileira as propostas que cada um tem para resolver as os problemas nacionais.

O senhor pretende participar de todos os debates?

Sem dúvida. Eu acho que a minha participação ela poderá colaborar para, não digo elevar o nível de debate, mas para contribuir para o conteúdo do que vai ser debatido.  Sem dúvida eu acho que isso vai ser importante.

Com as atuais regras de financiamento de campanha, o senhor terá condições de fazer uma programação para visitar todos os estados brasileiros?

É difícil. Vai ser muito difícil que assim seja feito. Não só por mim, mas para todos os outros candidatos. A nova legislação, como você bem disse, é uma legislação muito restritiva, nessa questão dos gastos de campanha. Temos somente disponíveis os recursos do chamado fundão, do fundo eleitoral, para eleição de 2018. E as contribuições eventuais que ocorram de pessoas físicas, já que as pessoas jurídicas estão proibidas de fazê-las. Eu acredito que esta eleição, diferentemente das outras, além deste ponto da arrecadação de recursos, tem também  um fator muito relevante que é a utilização das mídias sociais. Isso é algo que diferencia esta eleição de outra. E eu acho que a mídia social terá muito mais efeito perante o eleitor do que propriamente o programa eleitoral gratuito, que vai perder muito da sua importância e influência. Pela televisão, que acredito que vai continuar a ter a atenção do eleitor e vai ser um momento para que ele julgue em quem e em qual o candidato ele irá depositar suas esperança, no debate que vai ser televisado. O programa eleitoral nos moldes tradicionais perderá muito a sua influência comparado com a influência que terá a mídia social.

Sua pré-candidatura presidencial foi reafirmada, após um recuo do PTC Nacional. Como foi para contornar e superar esta questão interna no PTC?

É o seguinte, a mudança da legislação da Lei 9.504, que é a lei eleitoral que exige que os partidos elejam x deputados estaduais para manter sua higidez e sua possibilidade da existência, enquanto partido e, em existindo, de atuação parlamentar, faz com que os partidos estejam muito envolvidos em fazer contas para saber qual é a melhor maneira eleger o maior número de deputados. E houve uma reunião da executiva do partido em que ficou visto que talvez seja importante que o partido não apresente  candidato a presidente, porque isso daria mais mobilidade ao partido nos estados de fazer composições que lhes sejam mais favoráveis a eleger deputados federais. É o mesmo raciocínio que, por exemplo, vem predominando hoje no MDB, que é um partido tão grande e tão tradicional. O MDB pensa nisso que talvez não seja a melhor hipótese indicar candidato a presidente, porque isso inviabilizaria alguns acordos que existem nos Estados com vista a eleger deputados federais e assim por diante. Essa é uma discussão latente que está permeado todos os partidos políticos. E com o nosso não foi diferente. Então, a minha pré-candidatura, como a dos outros candidatos, permanece. Porque a pré-candidatura independe da vontade de qualquer pessoa, ou de qualquer entidade, ou de qualquer organização partidária. A minha pré-candidatura depende única e exclusivamente daquele que se apresenta como pré-candidato, que sou eu. Eu sou pré-candidato a ser candidato pelo partido a presidente da República. Então,  daqui para realização das convenções, a partir do final desse mês até o dia 5 de agosto, é que nós teremos então uma ideia clara de quem serão aqueles que realmente permanecem e remanescem como candidatos a presidente. Isso também ajudará a termos um cenário mais nítido. Porque hoje este cenário está absolutamente difuso e não temos a menor condição de poder entender, neste quadro tão confuso como está no âmbito das pré-candidaturas, qual deles terá condições de chegar ao segundo turno da eleição.

Aqui em Alagoas há alguns rumores de que o senhor seria candidato a governador. Há essa chance?

Não. Não serei candidato ao Governo do Estado. Isso não. Isso não. E essa questão de Alagoas é uma questão que ainda está muito confusa, né?  Acho que nós precisamos dar um certo tempo, pelo menos eu preciso me dar um certo tempo, para analisar melhor quadro que está muito mexido, como é próprio até do nosso Estado, né? Todo dia um boato diferente, uma conversa diferente.  Acho que aí também teremos que esperar as convenções serem realizados para nós termos um quadro definido das candidaturas e das coligações partidárias, para nós podermos então fazer uma avaliação de como será ou possivelmente será o resultado  da eleição.

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