Famílias em guerra

Clã Boiadeiro mataria deputado e prefeita por R$ 300 mil, revela a polícia de Alagoas

Deic afirma que pistoleiros receberam R$ 290 mil para matar Paulo e Marina Dantas

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Deputado Paulo Dantas a esposa Marina Dantas e Baixinho Boiadeiro. Fotos: Divulgação e Dicom TJAL

Um dia depois de a Justiça condenar os irmãos Boiadeiro a mais de 100 anos de prisão por um duplo homicídio ligado à guerra com a família Dantas, a Polícia Civil de Alagoas divulgou hoje (6) que interceptou uma trama criminosa para matar o deputado estadual Paulo Dantas e sua esposa e prefeita de Batalha (AL), Marina Dantas, aliados do governador Renan Filho e do senador Renan Calheiros, todos do MDB.

De acordo com os delegados Fábio Costa e Thiago Prado, da Divisão Especial de Investigação e Capturas (Deic), pistoleiros pernambucanos haviam recebido R$ 290 mil da família Boiadeiro como parte do pagamento para matar o casal rival da família Dantas. O crime deveria ocorrer no início do mês de junho de 2018, antes das eleições, para impedir que Paulo Dantas fosse eleito deputado. E havia a promessa de 20 dias de festa para comemorar.

A investigação também contou com o apoio dos delegados Cayo Rodrigues e Fabrício Lima e aponta um dos condenados ontem (5), José Márcio Cavalcante de Melo, o “Baixinho Boiadeiro”, como o responsável pelo plano registrado em conversas de áudio recuperadas pela polícia no aplicativo Whatsapp.

Segundo os delegados, a trama ainda envolve o primo de Baixinho,  identificado como Dênis Boiadeiro, que seria responsável por contratar pistoleiros por R$ 300 mil. Eles afirmam que os áudios chegaram até a polícia encaminhados pelo pistoleiro contratado.

O delegado Thiago Prado disse ao Diário do Poder que, de todos os envolvidos na trama, somente Baixinho Boiadeiro está preso e outros envolvidos ainda estão sendo investigados. Ele explicou que divulgou detalhes da investigação hoje (6) para reforçar para a sociedade o nível da periculosidade de Baixinho Boiadeiro e a necessidade de manutenção da prisão preventiva, decretada após a condenação de Baixinho e de seu irmão José Anselmo Cavalcanti de Melo, o “Pretinho Boiadeiro”, condenados com Thiago Ferreira dos Santos, o “Pé de Ferro”, por um duplo homicídio ocorrido em 2006.

“O Baixinho Boiadeiro é a pessoa que mais fala nos áudios. Sabemos que as pessoas dos áudios são todos da família Boiadeiro. Felizmente a polícia conseguiu descobrir essa trama e está mostrando para a sociedade alagoana que se tratam de pistoleiros e que agora traremos a paz para o Estado de Alagoas”, disse o delegado Fábio Costa, ao lado de Thiago Prado ,na entrevista concedida à jornalista Heliana Gonçalves, no programa Bom dia Alagoas, da TV Gazeta.

A motivação da trama seria vingança, porque a família Boiadeiro acusou o casal de assassinar o vereador de Batalha, Adelmo Rodrigues de Melo, o “Neguinho Boiadeiro” (PSD), pai de Baixinho e Pretinho que foi executado por pistoleiros em novembro de 2017. Segundo Baixinho, o pai denunciaria irregularidades atribuídas ao então presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, Luiz Dantas (MDB-AL), pai de Paulo Dantas.

A Polícia Civil espera usar como prova um laudo do Instituto de Criminalística (IC) com o padrão de voz dos investigados. E divulgou áudios em que os primos Boiadeiro avaliam estratégias para praticar o crime. Veja alguns trechos:

Monitoramento

“Oia primo, se quiser esperar ele na saída de Batalha pra essa cidade é só deixar uma pessoa lá no posto em cima da Ração Nordeste. Quando o carro dele passar, o caba (sic) já vai saber que é ele e a equipe de execução fica na cidade de Jacaré dos Homens. Tem três quebra-molas pra passar na frente dessa cidade”

Poder de fogo

“É como um fuzil 556. Segurança dele são quatro cara: um com um fuzil 556, outro com uma pistola .40, outro com uma espingarda 12. É os segurança dele são esses, entendeu? Às vezes você vê ele com meio mundo de gente, mas não é tudo segurança, entendeu? (sic)”

“Homi, vocês com uma AK47, com três AK… Homi aquele carro dele não aguenta não os dois, entendeu? (sic) Tô dizendo assim porque um só resolvia. Eu tô dizendo assim, de dois atirando naquele carro preto dele, entendeu? E um caba com outro virado pra trás e outro caba com a 12 ajudando a ele, só pra tanger os seguranças pra trás (sic)… não vem ninguém. Você sabe muito bem quando o barrão, quando o bicudo começa a torar, é só carrera que os caba dá (sic). Não fica um não! Não fica um! Agora você tá mais do que certo, bate na hora certo, e eu tô só no seu aguardo”

20 dias de churrasco para comemorar

“Primo dois, aqui onde eu tô é longe como a peste, entendeu? É longe como a peste (sic). Só que nós temos essa fazenda sem ninguém saber, entendeu? Aí eu tô com 100, com 100 bois no cocho. Dá pra comer um churrasco não dá? Porque eu num faço questão de matar uns 4, 5 pra gente passar uns 20 dias tomando uma (risos). Se Deus quiser. O carvão é fácil demais homi! Aqui a churrasqueira aqui cabe uns dois sacos de carvão. E não se preocupe não. Vamos trabalhar que o boi já tá aqui. É só a gente pegar os bichos ali e puxar pra cá. Aí meu primo 1 traz vocês na hora pra passar aqui. Pra gente passar 15 dias tomando uma aqui (sic) sem botar o pé no chão, se Deus quiser. E o outro carvão já tá com o pé no cipó, lá nas Alagoas, viu?”

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