Democracia ameaçada

Alagoas tem voto a R$ 100 e guerra de pesquisas falsas confundindo eleitor

Criminosos parcelam dívida com eleitor e atuam no vácuo da crise e de pesquisas registradas

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Sem pesquisa registrada na Justiça Eleitoral há mais de um mês, a disputa majoritária pelo Senado e pelo Governo de Alagoas virou terra fértil para o plantio de falsos dados sobre o cenário eleitoral. Grupos políticos estão se valendo da alta capacidade de proliferação de informações nos grupos do aplicativo WhatsApp para tentar desinformar o eleitor, conforme seus interesses. Já na disputa proporcional, há negociação de voto a R$ 100, parcelados, e à vista.

Desde a semana passada, os dados de pesquisas não registradas e de supostas enquetes são reproduzidos ilegalmente pelo aplicativo de mensagens, através de textos, imagens e até arquivos em PDF.

Muitas das informações atribuem os dados a institutos de pesquisa reais, outros, não citam a fonte.

Um episódio específico que causou maior alvoroço nos escritórios das campanhas no Estado foi o que aproveitou o fato de a Federação das Indústrias de Alagoas (FIEA) ter encomendado uma pesquisa eleitoral ao Ibope.

A pesquisa existiu, mas nem o instituto nem a Casa da Indústria não os divulgou, por não ter havido o interesse de registrá-la e torná-la pública. Mas dados falsos atribuídos ao levantamento foram “vazados” por comitês de campanha, conforme seus interesses, para fortalecer candidaturas e confundir o eleitor.

Enquanto isso, candidatos têm acesso aos dados reais e moldam seu discurso conforme os números, ora se baseando na realidade, ora na fantasia oferecida ao eleitor.

Voto inflacionado

Tal qual a internet, os currais eleitorais seguem sendo terra sem lei, com os “cabeças” das campanhas articulando no interior e na periferia da capital os tradicionais cadastros dos eleitores dispostos a receber dinheiro desviado dos cofres públicos como pagamento pelas suas consciências.

A inflação elevou o voto ao custo de R$ 100 e a negociação passou a parcelar em até três vezes o ato de corrupção, parte do pagamento antes, outra depois, se o candidato for eleito. Mas os candidatos não se intimidaram com o novo cenário de cerco à corrupção, crise econômica e proibição de doações legais de empresas às campanhas.

Alguns mercadores do voto sabem que terão dificuldades para saldar as dívidas com os eleitores que participam do ato de corrupção. Mas o que parece ser empecilho à agressão ao processo democrático logo tem se transformado em oportunidade para criminosos mais competentes, que seguem atuando no vácuo dos adversários e do alcance das autoridades.

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