Sofrimento psíquico

80% de moradores de favelas relatam adoecimento pela violência armada no Rio

Pesquisa compõe cartilha da Fiocruz para prevenção à violência armada em Manguinhos

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A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou nesta segunda (25) a Cartilha de Prevenção à Violência Armada em Manguinhos, que aborda o impacto da violência armada na saúde de moradores e trabalhadores da comunidade da Zona Norte do município do Rio de Janeiro. E o adoecimento com sofrimento psíquico é um dos indicadores citados por 80% dos moradores entrevistados no estudo lançado em evento no auditório do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz), no Campus Manguinhos.

A cartilha apresenta ainda informações sobre a rede de proteção social a vítimas de violência, medidas preventivas e de tratamento, e os indicadores do impacto na saúde dos moradores das comunidades de Manguinhos, Maré e Jacarezinho.

O sofrimento psíquico é o dano mais percebido entre 88 moradores e moradoras desses territórios entrevistados: 80% responderam que a violência com uso de armas de fogo afeta sua saúde, de sua família ou pessoas próximas.

Os agentes da segurança pública também são impactados. De acordo com dados da Comissão de Análise da Vitimização Policial da Polícia Militar do Rio de Janeiro que constam do material, todo dia de três a quatro policiais são afastados com diagnósticos psiquiátricos na corporação. Em um levantamento referente ao ano de 2018, quase metade dos 1.320 militares licenciados em decorrência de problemas de saúde foi afastada por reações ao estresse grave (567).

A cartilha também dispõe de um capítulo dedicado ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático construído pela pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fiocruz (Claves/Ensp), Fernanda Serpeloni. Outro item esclarece dúvidas comuns entre moradores sobre como proceder durante a abordagem policial, revista e invasão de domicílio.

Segundo Leonardo Bueno, do Programa de Promoção de Territórios Urbanos Saudáveis da Cooperação Social da Fiocruz, o pré-lançamento da cartilha inicia uma campanha de prevenção à violência armada em Manguinhos a ser feita no território, mas também junto a autoridades e instituições ligadas à saúde, segurança pública e direitos humanos. Além da Fiocruz, o material – que foi construído junto a policiais do conselho comunitário de segurança local, moradores e trabalhadores – será lançado também em espaços de participação social de Manguinhos.

“O lançamento dessa cartilha é resultado do esforço da Fiocruz para avançar em diagnósticos e pesquisas sobre o tema, relacionando a questão da violência armada como pauta da saúde pública; e, ao mesmo tempo, é fruto das experiências concretas de prevenção que construímos junto a moradores, trabalhadores e movimentos sociais”, apontou Bueno.

A cartilha pode ser consultada aqui. (Com informações da Cooperação Social da Fiocruz)

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